Marconi Notaro – No Sub Reino dos Metazoários (1973)
Este é o segundo trabalho surgido das entranhas do coletivo Abrakadabra (Satwa foi o primeiro), liderado por Lula Côrtes e sua esposa, com sede no bairro de Casa Forte, em Recife, Pernambuco. Marconi Notaro era poeta e músico independente e foi ele quem trouxe Zé Ramalho da Paraíba para o conglomerado mais maluco do Udigrudi nordestino. “Desmantelado”, a primeira faixa de No Sub Reino dos Metazoários (cuja capa transcendental é de autoria de Lula), é um inofensivo samba de quando Notaro fazia música para o Teatro Popular do Nordeste. Ela apenas guarda segredo sobre o que está por vir: a imaculada visão poética de Notaro, imortalizada neste seu único disco, com o apoio de Lula Côrtes, Zé Ramalho e Robertinho do Recife. Sua poesia aparece mais forte em “Não tenho imaginação para Mudar de Mulher”. Mas são os experimentos instrumentais de No Sub Reino dos Metazoários que o fazem um dos grandes marcos da psicodelia brasileira. “Ah Vida Ávida” e “Sinfonia em Ré” contém sons de natureza em meio aos violões carregados de identidade regional. “Made in PB” é o tema mais rock, com letra de Zé Ramalho, voz desleixada de Notaro e a guitarra espacial de Robertinho, que volta em “Antropológica Nº 2”. Nos anos 1970, nem mesmo em grandes centros como Rio ou São Paulo, foram produzidos discos independentes tão experimentais, psicodélicos e descompromissados com a indústria fonográfica como aconteceu na cena de Pernambuco. (Lindo Sonho Delirante, por Bento Araújo)