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Biografia

Luiz Augusto Martins Côrtes (Recife, Pernambuco, 1949 – 2011). Compositor, cantor, instrumentista, artista visual e poeta. Reconhecido por seu pioneirismo em combinar a música popular nordestina com a psicodelia e o rock progressivo.

Vive parte de sua adolescência na cidade de São Paulo, onde entra em contato com o rock-and-roll. De volta a Recife, inicia sua carreira artística em 1970, com pôsteres e ilustrações associados à experiência psicodélica. Em 1971 publica de forma independente os livros de poemas Rarucorp, em parceria com a artista visual Kátia Mesel, e Hábito ou Vício.

Em 1972 passa a viajar pelo mundo. Em Marrocos, adquire um swinsen, instrumento de três cordas popularmente usado como acompanhamento em apresentações de malhun, a poesia popular cantada de origem árabe magrebino. Ao longo dos anos, desenvolve um jeito particular de tocá-lo, além de aperfeiçoar o instrumento e rebatizá-lo de tricórdio. 

Já no Brasil, em paralelo ao início de sua carreira musical, realiza uma série de exposições em Recife, com destaque para a Coletiva Chantecler, em 1973, curada pelo artista multimídia Paulo Bruscky (1949), e a individual Influências Cósmicas e Zodiacais, de 1974, na qual apresenta cerca de 50 desenhos. Sua obra pictórica é reconhecida pela crítica pernambucana como um “sedutor emaranhado de símbolos” dirigidos por uma recorrente “metamorfose que confere uma ambiguidade entre figura humana e o meio vegetal, ou entre o humano e o produto industrializado.”

Estreia na música em 1973, com Satwa, acompanhado de seu tricórdio e já apontando o que aperfeiçoa anos mais tarde no álbum Paêbirú (1975). Satwa é gravado em parceria com o músico e cartunista Lailson de Holanda Cavalcanti (1952) e sua viola de 12 cordas. A sonoridade do disco é feita exclusivamente pelo instrumento marroquino e pela viola nordestina, influenciada diretamente pela música do Festival de Woodstock, em que Lailson compareceu. Segundo a crítica, pode-se considerar as músicas como “variações sobre um mesmo tema, com acentos camerísticos e sertanejos nordestinos”, sem grandes diferenças na melodia.

No mesmo ano, junto de Kátia Mesel, cria a produtora Abrakadabra, responsável pelo disco No Sub Reino dos Metazoários, de Marconi Notaro (1949), em que Lula é autor da capa e músico no disco. É nesse trabalho psicodélico que o cantor Zé Ramalho (1949) surge pela primeira vez como colaborador musical de Lula, sendo autor da faixa “Made in PB”. 

Em 1974, com Kátia Mesel e Zé Ramalho, viaja até o sítio arqueológico da Pedra do Ingá, na Paraíba, de onde volta com o conceito do álbum Paêbirú (Caminho da Montanha e do Sol), de 1975. Gravado nos estúdios da Rozenblit, em Recife, o disco da dupla de músicos conta com a participação de outros nomes expoentes da cena musical nordestina de então, como Geraldo Azevedo (1945), Alceu Valença (1946) e Don Tronxo. O conceito do disco duplo divide-se em quatro partes, Terra, Ar, Fogo e Água, uma para cada lado dos vinis, e estrutura-se com base em fragmentos de canções e improvisos musicais. Temas musicais dos índios cariri, estudos de violão criados por Geraldo Azevedo, elementos do maracatu, do repente alagoano e do candomblé respondem ao longo do disco a cada um dos elementos específicos.

Com lançamento previsto para 1975, os planos foram adiados por causa da cheia do Rio Capibaribe, que atinge o estoque da gravadora e inutiliza completamente 2 mil LPs, entre eles a tiragem de Paêbirú. Há duas versões sobre o acontecimento: a primeira afirma que as matrizes originais do álbum são poupadas pela enchente e enviadas em 1976 para uma fábrica de vinis em São Paulo, de onde se obtém uma nova cópia com melhor qualidade. A segunda afirma que cerca de 300 exemplares sob os cuidados de Kátia Mesel são os únicos poupados e vendidos ao público. Entre os dias 16 e 18 de julho de 1976, no Nosso Teatro, em Recife, acontecem os três únicos shows de lançamento de Paêbirú. Devido à escassez de cópias comercializadas desde seu lançamento, o álbum torna-se nos anos 2000 o item mais raro e caro da música brasileira. Somente em 2008 uma nova edição é feita pelo selo inglês Mr. Bongo; e em 2019 o álbum ganha uma nova prensagem brasileira em vinil pela Polysom. Em 2010, a criação de Paêbirú é tema do documentário Nas Paredes da Pedra Encantada, com direção de Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim.

Em 1975 junta-se à banda de Alceu Valença na turnê Vou Danado Pra Catende e prossegue a década realizando shows com outros artistas, como Don Tronxo. Ao final da década de 1970, grava os discos Rosa de Sangue (1980), pela Rozenblit, e O Gosto Novo da Vida (1981), pela Ariola. Problemas contratuais dificultam a distribuição dos dois álbuns, e Rosa de Sangue volta ao público somente em 2009, quando uma edição europeia é realizada. Volta a gravar em 1988, com o disco instrumental Bom Shankar Bolenajh, pela Continental, em parceria com o instrumentista Jarbas Mariz (1952). No mesmo ano, grava Lula Côrtes & Má Companhia junto com a banda de rock recifense Má Companhia, lançado de forma independente em 1995.

Ao final da vida, trabalha como assessor cultural na prefeitura de Jaboatão dos Guararapes e vive o reconhecimento de sua obra musical por meio de relançamentos, principalmente no exterior, como nos Estados Unidos e na Europa. 

Lula Côrtes constrói sua carreira em produções que buscam unir suas experiências artísticas atreladas à cultura popular nordestina, valorizando as músicas tradicionais e os músicos da região.

Fonte: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa26/lula-cortes